Uma grande e inesquecível experiência de leitura! Reler Orlando, de Virgínia Woolf (na tradução primorosa de Cecília Meireles) foi um verdadeiro êxtase. É uma obra prima. Orlando nasce homem no século XVI, transforma-se em mulher e vai até o século XX. Um passeio pela história da Inglaterra (a descrição da inundação no final do primeiro capítulo é primorosa: é o próprio fluxo da história). O relógio toca as badaladas: o céu claro do século XVIII torna-se escuro no século XIX. As casas ficam recobertas de heras e há umidade por toda a parte: no madeiramento, nos pensamentos, no tinteiro. "Os adjetivos se multiplicaram; a poesia lírica tornou-se poema épico; e pequenas bagatelas, que tinham sido ensaios de uma coluna, eram agora enciclopédias de dez ou vinte volumes." Orlando um dia acorda mulher, olha em volta e percebe que todos andam aos pares: é a era do casamento. Lady Orlam se casa e rende-se à maternidade. Chega o século XX: a água aquecida, "a um toque a sala inteira estava iluminada", a fábrica de guarda-chuvas, o trem, as vitrines, "uma loja que vendia livros", os empregados de banco, a fragmentação da identidade do ser humano, os "rios de gente". A hera havia secado. E Lady Orlam presta, então, uma reverência ao espírito da época...
Tudo é genial. Cada página, cada parágrafo, cada palavra nos ata para sempre ao próprio ato de ler. Passear pelas frases, conduzida por Virgínia e Cecília através das palavras escolhidas, é uma experiência absolutamente necessária e imprescindível. Tempo infinito da mais pura Beleza.
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