1. Meus dois filhos foram para casa de um amigo na Ilha do Bananal, em Ilha Grande, passar o Reveillon de 2010. Naquela noite, ainda acordados, ouviram um estrondo, a luz se foi e uma onda invadiu a casa onde estavam. Sem saber ainda o que havia acontecido, alguns se aventuraram e foram até o local, a tal Pousada Sankai, a uns 70 metros; outros, assustadíssimos, permaneceram juntos em casa. Eles conseguiram me avisar que estavam bem, mas sabê-los naquele lugar desolador, aterrador, cercados de sofrimento e dor, me trouxe a sensação, péssima, de que nada poderia fazer. O primeiro pensamento: para protegê-los seria preciso que estivessem debaixo da asa. Penso na solução mágica: um super-homem que os trouxesse sãos e salvos. Depois numa solução cinematográfica: um helicóptero. Não menos mágica, por sinal. Até que em um telefonema, um deles me diz: "Não se preocupe. Afinal estou no lugar mais seguro do mundo: tem bombeiro, defesa civil, exército, marinha. Não vou sair daqui para mergulhar no caos." E, como em todos os dias, me dou conta o quanto aprendo com eles. Mais ainda: que na realidade são eles que me protegem.
2. Diante de tanto sofrimento e espanto estampados nas faces e refletidos nos meus olhos, nesses últimos primeiros dias, não foi possível evitar minha própria dor. Uma inevitável empatia me aproximou daqueles que sofrem e que (oh terrível condição humana), precisam permanecer vivos na dor. Penso na trágica história de uma família: uma noite festiva, um estrondo e, num segundo, só uma pessoa sobrevive. Uma mulher de 40 anos. Só. Sem mais os pais, irmã, marido e filhos. Há algum tempo atrás uma amiga, ao sobreviver a um grave acidente, me disse que o primeiro pensamento que surge é: por que sobrevivi? Ou melhor, disse-me, para quê sobrevivi? Sempre me lembro de um romance de Somerset Maugham intitulado "O Fio da Navalha". Em um episódio na guerra, o personagem Larry sobrevive enquanto o amigo morre em seu lugar. Tudo muda completamente para ele. Passa então a buscar o sentido da vida (vale a pena a leitura). Mas, afinal, existiria resposta para essa pergunta? Não será esta mais uma entre tantas outras para as quais as respostas inexistem? Bem, se há uma resposta, não sabemos. Nunca saberemos: são os Mistérios. Mas posso criar uma, inventar um sentido, fazer algo em que acredito. O escritor Carlos Heitor Cony - cujos livros fazem parte dos meus preferidos - disse certa vez em uma entrevista: "Não sabemos se Deus existe ou não. Mas se ele não existe, precisamos criá-lo". Quem sabe não é por aí: se há ou não uma resposta, não importa. O que é imperativo (imprescindível) é criar uma. A resposta única, singular, exclusiva. E talvez a partir dela poderá ser possível saber a pergunta que realmente importa.
2. Diante de tanto sofrimento e espanto estampados nas faces e refletidos nos meus olhos, nesses últimos primeiros dias, não foi possível evitar minha própria dor. Uma inevitável empatia me aproximou daqueles que sofrem e que (oh terrível condição humana), precisam permanecer vivos na dor. Penso na trágica história de uma família: uma noite festiva, um estrondo e, num segundo, só uma pessoa sobrevive. Uma mulher de 40 anos. Só. Sem mais os pais, irmã, marido e filhos. Há algum tempo atrás uma amiga, ao sobreviver a um grave acidente, me disse que o primeiro pensamento que surge é: por que sobrevivi? Ou melhor, disse-me, para quê sobrevivi? Sempre me lembro de um romance de Somerset Maugham intitulado "O Fio da Navalha". Em um episódio na guerra, o personagem Larry sobrevive enquanto o amigo morre em seu lugar. Tudo muda completamente para ele. Passa então a buscar o sentido da vida (vale a pena a leitura). Mas, afinal, existiria resposta para essa pergunta? Não será esta mais uma entre tantas outras para as quais as respostas inexistem? Bem, se há uma resposta, não sabemos. Nunca saberemos: são os Mistérios. Mas posso criar uma, inventar um sentido, fazer algo em que acredito. O escritor Carlos Heitor Cony - cujos livros fazem parte dos meus preferidos - disse certa vez em uma entrevista: "Não sabemos se Deus existe ou não. Mas se ele não existe, precisamos criá-lo". Quem sabe não é por aí: se há ou não uma resposta, não importa. O que é imperativo (imprescindível) é criar uma. A resposta única, singular, exclusiva. E talvez a partir dela poderá ser possível saber a pergunta que realmente importa.
Postar um comentário