Telma Miranda

Todos os anos, principalmente na Semana Santa, era obrigatório pedir a benção à minha madrinha, que com toda a "pompa e circunstância" dizia: Que Deus a abençoe! Madrinha Delva. Ela se orgulhava dos afilhados - de fé e de coração - cujos feitos traziam um colorido para sua vida tão humilde. No último sábado fui pedir-lhe a derradeira benção. E ela, incrivelmente, ainda foi capaz de me abençoar ao me proporcionar um reencontro com estranhos que de repente reconheço como primos, tios, tias de um outro tempo. E novamente de agora. Me surpreendo diante de tanto afeto. Sempre me pergunto que sentimento é esse que transforma, em segundos, pessoas desconhecidas em parentes queridos. E a generosidade com que trocamos olhares de reconhecimento foi ainda maior, preenchendo uma existência não-comum mas repentinamente compartilhada. Na despedida, agradeço mais essa benção e percebo que, após tantas outras recebidas, era a minha vez e ousei dizer-lhe: Que Deus, em sua infinita misericórdia, a abençoe!
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