Todo início de ano é assim: tudo é novo e tudo se repete. Ansiamos pelo novo ou insistimos em projetos não realizados, sempre na expectativa de que boas novas acontecerão. No fundo, a grande interrogação humana: temos, afinal, um destino? As opiniões, óbvio, são várias e variam de acordo com a fé, ideologia, filosofia de cada um. Sabemos, todos nós, que não há resposta. Cada um acredita na sua versão: é apenas uma questão de fé. Daí a encruzilhada: tenho desejo, exerço minha vontade, faço acontecer ou há algo mais que desconheço e que estranhamente sinto que concorre não a meu favor? É exatamente este o ponto crucial de nosso sofrimento: como não podemos saber, o que mais desejamos é justamente saber. Saber o futuro, o que nos espera. Saber, enfim, o tal destino.
Muitos filósofos, teólogos, poetas já se debruçaram sobre esse assunto. O poeta Emílio Moura, em seu poema intitulado "Interrogação", nos revela uma bela imagem. Vejamos:
INTERROGAÇÃO
Sozinho, sozinho, perdido na bruma.
Há vozes aflitas que sobem, que sobem.
Mas, sob a rajada ainda há barcos com velas
e há faróis que ninguém sabe de que terras são.
- Senhor, são os remos ou são as ondas o que dirige o meu barco?
Eu tenho as mãos cansadas
e o barco voa dentro da noite.
Aí temos o homem, sozinho, perdido na bruma, na "noite", com uma pergunta e sem resposta. É o quadro da nossa condição humana: somos absolutamente sós, perdidos, buscando compreender a vida, a morte. Podemos entender as ondas como o destino, o imponderável, o que nos cerca e que não podemos controlar. Seriam as ondas que dirigem o barco? Ou seriam os remos - as minhas mãos, o meu trabalho, os meus esforços, a minha responsabilidade, as minhas escolhas - que me levariam em segurança para a praia? Não sabemos. Nunca saberemos. Na dúvida, usemos os remos.
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