Desejo de fugir para uma região impossível que não existe, onde a paisagem fosse tão triste que nos desse vontade de não viver mais. Meu coração pesado, minha boca tão fria. Por quê tantos olhos cheios de tantas lágrimas? Por quê tantas palavras e tantos gestos? Por quê este sol tão vivo, este sol, meu Deus, e este sorriso, este sorriso que é dela e que está dizendo, dizendo agora, como sempre, que a vida é bela, que a vida é bela?
Somos os grandes solitários, corpos na noite, vozes sem sentido. A qualquer hora, a mesma sombra cai sobre nós.
Podes falar, ninguém te ouve. Noite tão noite, nunca se viu. Cada soluço, que vem de longe, chega (mas, de onde? ninguém sabe), como se fora o teu soluço que vem de longe.
Somos os grandes solitários. Só a morte cresce em nós e deita raízes em nosso espírito.
Corpos na sombra, vozes sem sentido, mudos erramos sem destino.
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, Soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, Bocas murmurejantes de lamento.
(...)
Quando os sons dos violões vão soluçando, Quando os sons dos violões nas cordas gemem, E vão dilacerando e deliciando, Rasgando as almas que nas sombras tremem.
(...)
Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa E vibra e se contorce no ar, convulso... Tudo na noite, tudo clama e voa Sob a febril agitação de um pulso.
(...)
Que encantos acres nos vadios rotos Quando em toscos violões, por lentas horas, Vibram, com a graça virgem dos garotos, Um concerto de lágrimas sonoras!
(...)
Cruz e Souza (Santa Catarina,1861-1898)
"Tango Suite" de Astor Piazzola (Argentina, 1921-1992). Duo Assad.