Rêverie, John William Godward, 1861/1922
Até o dia 20 de dezembro, a rádio Mec Fm está apresentando, aos domingos, ao meio-dia, um ciclo em homenagem ao pianista brasileiro Heitor Alimonda, falecido em 2002. Em uma dessas entrevistas, ele nos conta que curiosamente não havia, na história da música clássica, nenhuma obra cujo título fizesse menção ao sonho antes da famosa Rêverie de Schumann (1810-1856). Em francês, há uma grande diferença entre rêve (palavra masculina que traduzimos como sonho) e rêverie (palavra feminina que traduzimos por devaneio: esse sonhar acordado...).
Gaston Bachelard (1884-1962), filósofo francês, dedicou um livro a esse assunto: "A poética do devaneio". Ele trata principalmente do devaneio poético: não o devaneio adormecedor, mas sim aquele que alarga e clareia nossa consciência. Um devaneio que poderia ser escrito, em palavras ou em notas musicais. O devaneio poético é um devaneio cósmico que nos possibilita criar um outro mundo e compartilhá-lo através da arte. E a grande singularidade da arte reside justamente no "prolongamento da atividade criadora na alma daquele que por ela se deixa invadir". Haveria, para ele, dois movimentos cruciais: ressonância e repercussão. "As ressonâncias dispersam-se nos diferentes planos de nossa vida no mundo; a repercussão convida-nos a um aprofundamento de nossa existência." Convido-os, portanto, a permitir que a música repercuta na alma, possibilitando assim uma experiência de uma existência essencialmente criadora. Temos escolhas: a rêverie de Schumann, ao violão, e a rêverie de Debussy. Ou ambas. Deixar-se tocar pela poesia das notas musicais nos permite sonhar acordado e criar um mundo particular, amoroso e criativo.
Rêverie de Schumann pelo violonista Antonio Lopez Palacios, do México.
Rêverie de Debussy para harpa com Ina Zdorovetchi, nascida na Moldávia.
Amo Debussy! Outro dia estava na Travessa e vi o tal livro da capinha vermelha, e foi paixão à primeira lida. Ler seu comentário só me fez querer mais esse livro. obrigada por postar, bjs.