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Telma Miranda




Rio
As pedras pulsam na manhã grená
Frio
Vejo arrepios na pele azul crepom do mar
As folhas caem no Jardim de Alá
Ah! Por que, no outono, o coração dói mais?

Rio
O verde vibra na manhã lilás
Frio
Copacabana é um cartão postal vazio
E o batimento das marés é blues
jazz

O sol enfeita a zona sul
de luz
em vão, em paz

Pardais passeiam sobre o Vidigal em paz
Flamingos flanam na Rocinha em paz
O Rio de maio acorda quase em paz
Bem perto de mim
Dois sabiás se amam, perto de mim
Adolescentes beijam, perto de mim

Ai que saudade de você e de mim
Os beijos de amor na tarde sem fim
Se fosse um filme a nossa vida era assim:
Um beijo imenso e o mar cantando Jobim
O grande amor se reprisando a vida inteira

Tom
As pedras pulsam na manhã grená
Frio
Vejo arrepios na pele azul crepom do mar
As folhas caem no Jardim de Alá
Ah! O outono faz o coração doer demais...

Ivan Lins
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Telma Miranda


The evening
Caspar David Friedrich (Alemanha, 1774-1840)


Im Herbst

1. Ernst ist der Herbst, und wenn die Blätter fallen,
sinkt auch das Herz zu trübem Weh herab.
Still ist die Flur, und nach dem Süden wallen
die Sänger stumm, wie nach dem Grab.

2. Bleich ist de Tag, und blasse Nebel
schleiern die Sonne wie die Herzen ein.
Früh kommt die Nacht: denn alle Kräfte feiern,
und tief verschlossen ruht das Sein.

3. Sanft wird der Mensch. Er sieht die Sonne sinken,
er ahnt des Lebens wie des Jahres Schluss.
Feucht wird das Aug', doch in der Träne Blinken
entströmt des Herzens seligster Erguss.


Klaus Groth (Alemanha, 1819-1899)





Im Herbst
Johannes Brahms (Alemanha, 1833-1897)



Outono

1. Sério é o outono, e quando as folhas caem,
também o coração mergulha em obscura dor.
Silêncio há no campo, e para o sul peregrinam
cantores mudos, como ao túmulo.

2. Pálido está o dia, e neblina esbranquiçada
envolve o sol bem como os corações.
A noite chega breve: folgam todas as forças,
e o ser repousa em silêncio profundo.

3. Suave se torna o homem. Vê como o sol se põe,
pressente o fim da vida como do ano o fim.
Seu olho umedece, porém no reluzir da lágrima
escapa feliz desabafo do coração.

(http://www.dhbyte.com.br/ccantorum/TraduBrahms_Herbst.pdf)
Telma Miranda

Jiri Kolar (Praga, 1914-2002)


DIA DE OUTONO

Senhor: é tempo. O verão foi muito longo.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e solta os ventos sobre as campinas.

Manda que os últimos frutos se arredondem;
dá-lhes inda dois dias mais meridionais,
leva-os à perfeição e faze entrar
a última doçura no vinho pesado.

Quem agora não tem casa, já não vai construí-la.
Quem agora está só, longo tempo o será,
fará vigílias, e lerá, escreverá longas cartas
e vagueará, de cá para lá, nas alamedas,
agitado, quando o vento arrasta as folhas.

Rainer Maria Rilke (Praga, 1875-1926)
Tradução: Paulo Quintela





Antonín Dvorak (Praga,1841-1904)

Concerto para violoncelo e orquestra (1º movimento)
Telma Miranda



CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine (1844/1896)


CANÇÃO DO OUTONO

Os longos sons
dos violões,
pelo outono,
me enchem de dor
e de um langor
de abandono.

E choro, quando
ouço, ofegando,
bater a hora,
lembrando os dias,
e as alegrias
e ais de outrora.

E vou-me ao vento
que, num tormento,
me transporta
de cá pra lá,
como faz à
folha morta.

Tradução: Onestaldo de Pennafort






Autumn Leaves


The falling leaves
Drift by the window
The autumn leaves
Of red and gold

I see your lips
The summer kisses
The sunburned hands
I used to hold

Since you went away
The days grow long
And soon I'll hear
Old winter's song

But I miss you most of all
My darling
When autumn leaves
Start to fall
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Telma Miranda



Epigrama nº 5

Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.

Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste, no isolamento.

Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar - límpido e exato.

E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do ato.

Cecília Meireles
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Telma Miranda





Epigrama nº 9

O vento voa,
a noite toda se atordoa,
a folha cai.

Haverá mesmo algum pensamento
sobre essa noite? sobre esse vento?
sobre essa folha que se vai?

Cecília Meireles



XXIV

Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.

Eugênio de Andrade




"O que sou hoje, nesse momento? Uma folha plana, muda, caída sobre a terra. Nenhum movimento de ar balançando-a. Mal respirando para não se acordar."

Este último trecho de Clarice Lispector está em "Perto do coração selvagem", seu primeiro livro, publicado em 1944, cuja leitura recomendo com urgência. No primeiro capítulo, Joana, ainda criança, diz a seu pai que inventou uma poesia:

"Vi uma nuvem pequena
coitada da minhoca
acho que ela não viu."

O pai, então, pergunta: "Como é que se faz uma poesia tão bonita?". E Joana responde: "Não é difícil, é só ir dizendo."
Também resolvi "ir dizendo"...


Somos folhas breves
- quase nada -
onde repousam
sombras
secreção
sementes

Somos plenos
e faltosos

E a cada gesto
trêmulo
infértil

Mais nos abismamos
em nada ser e tudo querer.

Telma Miranda
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Telma Miranda
Vigília

Como o companheiro é morto,
todos juntos morreremos
um pouco.

O valor de nossas lágrimas
sobre quem perdeu a vida,
é nada.

Amá-lo, nesta tristeza,
é suspiro numa selva
imensa.

Por fidelidade reta
ao companheiro perdido,
que nos resta?

Deixar-nos morrer um pouco
por aquele que hoje vemos
todo morto.

Cecília Meireles

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