Telma Miranda

Sempre se cantou, de forma dramática, a dor da separação. As letras românticas revelam um sofrimento desesperado pela perda da pessoa amada. Quanto mais tristes estão, mais as pessoas desejam ouvi-las. Sem dúvida, a separação fere, e o amor romântico, por mais que se apresente como maravilhoso de ser vivido, traz mais sofrimento que alegrias.

Quando se rompe uma relação amorosa, aquele que não desejava o desfecho é tomado por profunda angústia e tristeza. Desde crianças aprendemos uma mentira bastante limitadora: só podemos nos realizar afetivamente através de uma relação amorosa estável — namoro ou casamento. Além disso, existe o hábito de se confundir amor com desejo. Ouvir alguém dizer “Não te amo mais” abala a auto-estima, é doloroso e desnecessário, porque na maioria das vezes não corresponde à realidade. A não ser que tenha havido alguma desavença grave ou então que se trate do amor romântico, aquele ao qual não se pode dar crédito, por não possuir quase nada de real, por ser inventado, idealizado. Mas não é desse tipo de amor que quero tratar agora.

Refiro-me ao amor de verdade, em que se percebe o outro com suas próprias características, amando-o pelo seu jeito de ser. Pode-se viver junto, com satisfação durante algum tempo, mas não é raro que, num determinado momento, surjam novos anseios. Não se deseja mais conviver diariamente com aquela pessoa, nem se sente mais desejo por ela. Entretanto, não significa absolutamente que o amor tenha acabado. Gilberto Gil percebeu isso quando compôs Drão para a ex-mulher: Drão/não pense na separação/não despedace o coração/o verdadeiro amor é vão/estende-se infinito/imenso monólito/nossa arquitetura/Quem poderá fazer/aquele amor morrer/nossa caminha dura/cama de tatame/pela vida afora...

Mas é comum se aceitar o amor dentro de limites tão estreitos que ele se torna um sentimento frágil. Acredito numa incompetência generalizada para a vida amorosa. Poucos conseguem depois da separação continuar amando seu antigo parceiro e sendo amado por ele. Um deve ser excluído para que se coloque outro no lugar. Entretanto, a relação amorosa é rica, variada, podendo se realizar de modos diversos. Com o ex geralmente ela se transforma: passa a ter novos códigos e menos convívio. Mas não tem nada a ver com estar amando menos.

É mais ou menos como se plugássemos o afeto pelo antigo parceiro em outro canal, sem que ele diminua de importância na nossa vida. Na hora em que nos dispusermos a reformular o modelo de separação, não será tudo muito mais fácil?

Regina Navarro
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