Telma Miranda



Os dias nunca mais serão os mesmos em Realengo. A vida se desfez. Faltam peças fundamentais no quebra-cabeça e, por isso, já não há sentido. A dor é tamanha que ecoa dentro de todos nós. Como fazer para recuperar os dias? Não há como. Nunca mais a vida será a mesma. As peças continuarão ausentes e o mundo queda em um silêncio/grito mortal. Quase impossível lidar com as perdas, os absurdos, o não-entendimento. Neste momento só cabe a dor de tudo sentir e nada compreender. E a cada dia, mais dor parece advir e quanto maior a dor, menos se torna possível entender. Mas justamente neste momento é preciso não adoecer e sim adolescer. Sem dúvida, é preciso ser Karine ou Larissa e imaginar uma nova vida a partir da presença de suas ausências. Uma vida diferente, sim, muito diferente do que se imaginava. Por isso mesmo, imaginar é preciso. Sonhar, como elas, um mundo possível. E aí um dia - de sol ou de chuva -, diante de um mundo sem sentido, poder reunir os fragmentos e inventar um novo desenho, novos rumos. Como só a adolescência é capaz.
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2 Responses
  1. Atos como esse têm acontecido em todas a latitudes.Difícil encontrar um denominador comum que nos ajude a entender para eventualmente buscar formas de evitar ou impedir.
    A publicidade intensiva e extensiva talvez tenha a sua parte na disseminação desses eventos. Mas uma coisa parece certa: há algo muito podre, seja na Dinamarca, na Finlândia ou em Realengo. Só nos resta, por hora,solidarizar-se.


  2. Também acho, meu amigo, difícil de entender. Uma idéia muito corrente é que a vida está banalizada, desvalorizada. Consequência, certamente, do sistema monetarista. Precisamos, sim, valorizar a Vida (que não pertence a ninguém - é maior que nós). E teríamos que começar valorizando a vida de Wellington, que já estava morto antes de matar e morrer. A vida é a mesma: a minha e a dele. Se não valorizo a dos outros, também desvalorizo a minha. Talvez seja esse o grito (mundial) de todos esses desatinos.


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