Telma Miranda
Caverna

Tô hibernando.
Mas não me aguardem.
Nem toda escuridão é grávida.

Nem toda luz indica
Nem todo homem nasce
Nem toda mulher se torna
Nem toda palavra se diz
Nem a dor é sempre redenção.
Nem o nada é suficiente.

Só um pouco.


Sem muita inspiração (ou vontade) de lidar com as letras, imaginei a caverna. Mas a idéia de hibernação parece conter em si mesma a possibilidade de saídas. Afinal, inverno, primavera, verão, outono e novamente inverno.
Um amigo, tentando "salvar-me", me diz que é preciso acender um fósforo. Mas como disse o grande poeta "um poema se escreve quando a noite caiu e nem um fósforo". Pois é. Resta rezar. Ou não. Ou exatamente o contrário: construir do barro, da terra, do nada, e mesmo assim (ou por isso mesmo) se achar (ou não).



NOTAS PARA UMA POÉTICA

Um poema se escreve sob granizo, ou nas frentes de inverno,
quando nos protegemos sob casamatas de zinco
Um poema se escreve quando a noite caiu e nem um fósforo
Um poema se escreve quando é preciso renascer das cinzas
- quando todos, para ganhar a vida, se tornaram zelosos funcionários da Morte
Um poema não se escreve com a razão
Um poema se escreve com as mãos
como quem reza
como quem toma nas mãos um punhado de terra.

Jayro José Xavier
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