À beira de um lago, Harold dá um anel a sua amada. Maude, feliz, aprecia o anel e, zás, atira o anel no meio das águas. Como já disse, era muito jovem e aquilo foi um choque. Harold, como eu, estranha: como assim? E ela responde: assim sempre saberei onde está. Ah, como custei a aprender a guardar assim! Era tão jovem e pensava que muitas coisas ainda iriam acontecer e que teria que guardá-las para não esquecer. Queria guardar absolutamente tudo que tivesse alguma importância. Já havia as infinitas caixinhas, em cujo interior conviviam embalagens de diamante negro, um brinco sem par, uma foto de Charles Bronson, papéis amassados com os desenhos que Marcos fazia. As pétalas de flores recebidas iam para dentro dos livros, amarelando as páginas melancolicamente. Mas, afinal, eu sabia onde estavam.
E seguimos assim: folhas desbotadas, bilhetinhos enamorados, guardanapos secretos, versos proibidos, fotos dos filhos, primeiros rabiscos...
Muitas caixinhas depois, percebi que saber onde guardamos esses objetos queridos não os torna vivos. Mais: as caixinhas são pequenos esquifes onde depositamos tempo perdido. Não foi fácil jogar lembranças às águas. Mas não saber onde estão me dá a certeza de sempre saber que existiram. E basta!
Postar um comentário