Telma Miranda

Butterflies and Poppies, Van Gogh, 1853-1890

1. Uma borboletinha tão branca, quase transparente, pousava mansamente na minha tarde quente. Olhei-a distraída, assim como ela, que não percebeu a aproximação de uma maquiavélica lagartixa. Num impulso, falei: oh, borboletinha, vá embora! vá enquanto é tempo. E ela, absolutamente mansa, nenhuma atenção me deu. Pensei: oh, nada me cabe na tarde, muito menos interferir no tempo das coisas. E pensei mais: porque escolher a borboletinha e preterir a lagartixa? porque entristecer os olhos se a alma se comove tão levemente?
Deixei a tarde com suas mazelas e fui anoitecer em outro lugar.

2. ...sabe que também por aqui elas têm aparecido muito ultimamente? Uma delas surgiu outro dia, enorme, castanha, silenciosa (!!!) e incrivelmente bela. Uma outra era miúda, branquinha e não estava só. Mas eu me sentia só, pensando que ainda hoje, diante deste nada saber sobre o próximo segundo, poderia viver uma dor, dessas que de tão intensa uniria a Tristeza com a Beleza (enfim, stupid things) e aí surgiram as borboletinhas brancas. Me distraí... Acompanhei por um breve tempo o passeio delas e de repente lá se foram, levando o meu espanto... Sei que não perguntei nada, mas me deram respostas. Quais ainda não sei, mas sei que foi assim.....

* Isso já ocorreu há dias, mas na literatura acabou de acontecer...
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