Telma Miranda
Outro ano agoniza diante da boca do tempo... assim começava um longo e-mail que recebi de um amigo. Uma bela imagem do rito de passagem de ano. Sabemos que as práticas ritualísticas estão normalmente associadas às representações da morte e do tempo. Penso em Khronos, que se alimentava inexoravelmente de tempo. O tempo Khronos é aquele dividido em espaços iguais: dias, horas, minutos. Um tempo sem surpresas, que sustenta a fome do Titã e as fábricas de relógios. Mas há o tempo Kairós que é, digamos, medido pela imaginação, pelas batidas do coração (quem não passou pela experiência do tempo infinito do primeiro beijo?).

A afirmação “se não entendemos o Tempo, nos tornamos suas vítimas”, de James Gleick, parece ser uma ótima base para uma reflexão. É fato que o tempo parece não existir mais, pois nos falta a todos. Mas talvez tenhamos que nos esforçar mais para compreendê-lo antes que viremos, junto com ele, alimento para engorda. O tempo "morreu", foi devorado, e se não nos permitirmos "descompassar", Khronos permanecerá a nos devorar. Mas se optarmos por viver no tempo Kairós...
Ah...
Talvez a angústia de se estar na "boca" do tempo (e sentir que anos, dias, meses passaram e que ainda se espera que algo significativo aconteça) possa ser substituída pela alegria de saber que o infinito nos aguarda e que, sem arrogância mas com muita dignidade, possamos dar uma resposta ao tempo.



"Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Pra tentar reviver"

Marcadores: |
0 Responses

Postar um comentário