Telma Miranda

Uma amiga, bem sucedida no mundo dos negócios, me diz que iniciou um curso de filosofia. Nada sabe sobre o assunto, mas, por curiosidade, inscreveu-se e lá foi ela. No primeiro encontro, disse-me, entendeu pouco mas o suficiente: "o tal filósofo falou que vivemos em um mundo com excesso de informação e um vazio de conhecimento - me sinto exatamente assim". É verdade, caríssima, que todos nós temos esse sentimento. Estamos absolutamente cheios: de informação, de oferta, de retórica, de compromissos, de comida e de dor. Por outro lado, vazios de verdades, de pátria, de afeto. Com fome e sem nenhum apetite, atravessamos os dias entre os excessos e as faltas. Mas há quem diga que este vazio pode ser o primeiro passo para uma nova construção: um vazio, digamos, criativo. Talvez esse sentimento do vazio seja exatamente a melhor forma de resistir às "cheias" contemporâneas. Como se do "nada" é que pudéssemos partir: sem malas, nem referências. Construindo cada passo, mesmo sem direção certa, tendo como bússola apenas a vontade de viver e de ser algo o mais próximo de si mesmo. Cheios de cascas e marcas, talvez seja necessário o sofrimento do vazio, da nudez, da consciência do sem-sentido, para que possamos experimentar novos dias, sendo e criando um novo "si-mesmo". Não é fácil fazer escolhas, mas uma delas é imprescindível e urgente: escolher viver a própria vida do jeito que queremos e não como querem que ela seja.
Marcadores: |
0 Responses

Postar um comentário